sábado, 29 de agosto de 2009

Origem da gripe suína. Como surgiu o vírus da influenza A H1N1?

Este é segundo post que escrevo sobre o assunto, novas pesquisas surgiram e o primeiro post além de defasado, esta muito minimalista.

O material genético do vírus da gripe é divido em oito segmentos (fig. 1) que podem se trocados no caso de dois ou mais vírus diferentes infectarem a mesma célula, esse processo é chamado de rearranjo ou recombinação, veja a figura 2.

Figura 1. Segmentos gênicos do vírus da gripe e as proteínas que codificam.



Figura 2. Esquema mostrando como os rearranjos genéticos deram origem a nova gripe.
Figura modificada de Kingsford e col. PLoS ONE julho de 2009.

Antes de vermos os eventos genéticos que gerou a gripe suína, temos que decifrar o que significa o H e N que compõem o nome da nova gripe. O H simboliza a hemaglutinina, uma proteína que fica na superfície do vírus. A hemaglutinina tem a função de iniciar a infecção das células do hospedeiro. Até o momento foram descritas 16 hemaglutininas diferentes. O N representa a neuraminidase, outra proteína que fica na superfície do vírus, até o momento foram descritas 9 neuraminidases diferentes. A neuraminidase tem a função de liberar o vírus nascente da célula hospedeira mãe. Portanto a combinação do H e o N formam o nome do vírus. Vamos à história.

O vírus da gripe suína não surgiu de repente, foram necessários vários episódios de recombinação para que base genética da nova gripe fosse criada. O vírus da gripe suína H1N1 norte americano circula na população de porcos a mais de 80 anos, este longo espaço de tempo deu oportunidade para que vírus da gripe de outras origens se recombinasse com este vírus. A primeira recombinação ocorreu entre o vírus H3N2 de origem humana e o H1N1 suíno gerando o vírus H3N2 suíno. Posteriormente, o vírus H3N2 suíno se recombinou com um vírus de origem aviária, gerando um vírus H3N2 recombinante triplo, detectado pela primeira vez em 1998. Um outro episódio de recombinação ocorreu, o vírus H3N2 recombinante triplo se combinou com o vírus suíno H1N1 norte americano, gerando o vírus recombinante triplo H1N2, foi esse vírus que ao se recombinar com o vírus H1N1 originário da Eurásia originou a nova gripe de hoje. Portanto, foram necessários pelo menos quatro eventos de recombinação para que o vírus da gripe suína de hoje surgisse. Por isso que essa gripe é chamada de suína, foi o vírus recombinante triplo que circula a anos na população de porcos norte americano que deu origem a nova gripe.
Segundo os estudos mais recentes, este novo vírus infectou uma pessoa no México em janeiro, iniciando a sua transmissão e se tornando pandêmico. Os primeiros casos da nova gripe nos Estados Unidos foram detectados em meados de março, mas somente no dia 24 abril é que a Organização Mundial da Saúde publicou o primeiro boletim epidemiológico.

Fontes:

1 - Ding e col. Virus Genes - Agosto/2009.
2 - Garten e col. Science - 10 de Julho/2009.
3 - Smith e col. Nature - 25 de Junho/2009.
4 - Mossad - Cleveland Clinic Journal of Medicine - Junho/2009.
5 - Dawood e col. The New England Journal of Medicine - 18 Junho/2009.
6 - Shinde e col. The New England Journal of Medicine - 18 Junho/2009.
7 - Kingsford e col. PLoS ONe - Julho/2009.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Gripe Suína. Brasil tem a maior quantidade de mortes do mundo.

Dados atualizados pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias Estaduais de Saúde contabilizam 587 óbitos, provocados pela gripe suína, no Brasil. Os Estados Unidos conta com 555 mortes. Antes de acusarmos o governo por termos nos tornado campeões mundiais de mortes provocadas pela gripe suína, vamos levar em conta o tamanho da população brasileira. A população do estado de São Paulo sozinho é maior que a da Argentina inteira, e o dobro da população da Austrália. O Brasil é o segundo país mais populoso do hemisfério sul, só ficamos atrás da Indonésia, que possui um clima quente e úmido, que não é favorável a propagação do vírus da gripe. Portanto, é até esperado que o Brasil tivesse uma grande quantidade de casos e de óbitos, essa situação vai mudar quando a temperatura começar a esfriar no hemisfério norte.
Exposto isso, vamos aos dados estaduais, veja tabela abaixo (clique para ampliar).


* Taxa de Mortalidade por 100 mil habitantes

Apesar do estado do Paraná não ter o maior número de óbitos, é o estado com maior taxa de mortalidade, 1,6 mortes por cada 100 mil habitantes, em segundo, vem o Rio Grande do Sul, com 0,9 mortes para cada 100 mil habitantes.

Antes de finalizar, uma coisa me chamou a atenção neste último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, não estava especificado qual a chance de morte por gripe suína dos pacientes portadores de algum fator de risco, no boletim anterior a proporção era de 50% de chance dos casos do grupo de risco morrer, ou seja, os outros 50% são de pessoas saudáveis, isso quer dizer que a gripe está matando da mesma forma pessoas saudáveis e pessoas portadoras de algum fator de risco. Será que ao omitir esta informação, o Ministério da Saúde não está querendo esconder que a gripe suína é bem mais letal que a gripe sazonal?

Fontes:

1 - CDC (mortes nos EUA).
2 - Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro.
3 - Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais.
4 - Secretaria Estadual de Saúde do Mato Grosso do Sul.
5 - Secretaria Estadual de Saúde do Acre.
6 - Secretaria Estadual de Saúde do Paraná
7 - Ministério da Saúde.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Gripe suína. Ministério da Saúde e Secretária de Saúde do PR divergem quanto à prevalência de sintomas.

Dados de prevalência de sintomas publicados pela Secretária de Saúde do Paraná divergem dos dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Veja a tabela abaixo.

Tabela mostrando as diferenças das porcentagens entre a prevalência dos sintomas divulgados pelo Ministério da Saúde e pela Secretária de Saúde do Estado do Paraná (clique para ampliar).

Para computar os sintomas apresentados pelos pacientes, infectados com o vírus gripe suína, é preenchida uma ficha contendo uma série de informações. Estas fichas são agrupadas e os dados tabulados, com isso, temos informações sobre a existência de fatores de risco, sexo e idade mais afetada pelo vírus, cidade de residência do paciente e os sintomas entre outras informações. Depois de tabulados, os dados são divulgados, teoricamente, estes valores deveriam ser semelhantes para a mesma doença, mas dados sobre os sintomas divulgados pela Secretaria de Saúde do PR e o Ministério da Saúde são divergentes. Variações de até 5 pontos percentuais são normais, mas o que vemos é que em pelo menos 4 sinais clínicos existe uma divergência maior.

Os valores porcentuais para a diarréia, febre, tosse e artralgia (dor nas articulações) divulgados pelas duas agências de saúde estão em conformidades, mas para a mialgia (dor muscular), dor de garganta, calafrio, dispnéia (falta de ar) e conjuntivite, os dados são conflitantes. As diferenças mais gritantes estão nas porcentagens da dispnéia e da conjuntivite, 52 e 55 pontos percentuais respectivamente. A diferença encontrada no caso da dispnéia é explicada devido às abordagens serem distintas, o Ministério da Saúde tabulou apenas os dados dos pacientes com síndrome respiratória aguda grave, da qual entre os sintomas está à dispnéia, já a Secretaria de Saúde do PR, divulgou dados de todos os pacientes confirmados para a gripe suína, sejam eles graves ou não. Mas a diferença nos métodos de tabulação não explica uma diferença de 55 pontos percentuais para o caso da conjuntivite.
Para Secretaria de Saúde do PR, 61% de todos os pacientes com gripe suína apresentaram conjuntivite e para o Ministério da Saúde, apenas 6% dos casos apresentaram o sintoma. Duas hipóteses surgem para explicar essa discrepância, uma é que a tabulação dos dados foi feita erroneamente, o que eu acho que não é o caso, e outra é que existam diferenças genéticas entre os vírus da gripe suína que circula no Paraná e em outras regiões do país. Pode ocorrer que o vírus da gripe suína prevalente no Paraná cause mais quadros de conjuntivite que os vírus que circulam em outros estados do Brasil. Vamos esperar pra ver qual será a explicação, se é que algum dia isso será explicado.

Fontes:

1 - Ministério da Saúde - Boletim de 19 de agosto.
2 -
Secretaria de Saúde do Estado do Paraná.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Gripe suína. Quantidade de mortes no Brasil já passa de 500.

Com 504 mortes confirmadas para a gripe suína, o Brasil passa a ser o segundo colocado em quantidade de mortes no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos que tem 522 mortes provocadas pela nova gripe (ver tabela 1). Se a gripe continuar se disseminando com esta intensidade no Brasil, logo vamos nos tornar o primeiro colocado do mundo. No entanto, a tendência é que a quantidade de casos de gripe suína no Brasil, e nos países do hemisfério sul, comece a diminuir com a elevação da temperatura, falta menos de um mês para o início da primavera, que começa no dia 22 de setembro. Nos países do hemisfério norte, é esperado que a quantidade de casos e de mortes aumente muito com a chegada do outono. Vamos esperar para ver o que acontece nos países mais frios como os Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Até o momento, o total de óbitos no planeta é de 2.615 pessoas.


Tabela 1. Lista de países com mais de 50 óbitos confirmados para a gripe suína (fonte: Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças dia 24/08).


Para os dados do Brasil veja a tabela 2.

Tabela 2. Lista dos estados que possuem mortes causadas pelo vírus da gripe suína.

São Paulo possui o maior número de óbitos com pouco mais de 35% do total de fatalidades, o Paraná vem em segundo, com 154 óbitos, pouco mais de 30% do total. Apesar de números semelhantes entre São Paulo e Paraná a taxa de mortalidade é bem diferente, com uma população quatro vezes maior que a do Paraná, a taxa de mortalidade de São Paulo é de 0,436 contra 1,454 do estado do Paraná. O rápido aumento na quantidade de casos e de óbitos no Paraná se deve a maior agilidade na realização dos exames.

Até meados de julho, os exames para a confirmação de gripe suína eram realizados pela Fiocruz no Rio de Janeiro, e demorava mais de 15 dias para que os resultados fossem liberados, no entanto, a partir de 27 de julho, o Laboratório Central do Estado do Paraná (Lacen-Pr) assumiu a execução dos exames e como resultado, a quantidade de casos e de óbitos aumentou rapidamente. Fica a pergunta, será que a quantidade de casos e de óbitos dos outros estados, que não fazem seus exames, é real ou está atrasado? Se os exames fossem executados com rapidez o governo teria maior agilidade no combate a disseminação viral em regiões de alta incidência de gripe suína.

Segundo o ministério da Saúde, 83% do total dos pacientes graves com gripe, estavam infectados com o vírus da nova gripe, somente 17% dos pacientes graves estavam infectados com a gripe sazonal. Portanto, o vírus da gripe suína, tem 5 vezes mais capacidade de causar agravamento do quadro de saúde de um paciente do que a gripe sazonal. As mulheres são mais afetadas pela gripe suína, 58% casos confirmados são de pessoas do sexo feminino. Do total de casos graves provocados pelo vírus da nova gripe, 12% foram a óbito, sendo que em 50% desses casos o paciente não tinha nenhum fator de risco. Se estes dados do Ministério da Saúde estiverem corretos, a gripe suína está matando bem mais que a gripe sazonal, e que os fatores de risco não são tão determinantes para o agravamento do paciente como aparentava antes.

Para finalizar, se minha lógica estiver correta, não tem diferença nenhuma se uma pessoa que foi a óbito tinha ou não algum fator de risco, visto que 50% dos óbitos foram de pessoas saudáveis e os outros 50% foram de pessoas portadoras de algum fator de risco. A presença de algum fator de risco não aumenta a chance de óbito.


Fontes:


1 - Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.

2 - Secretaria de Saúde do Estado do Paraná - Lacen.

3 - Quinquagésimo boletim epidemiológico do estado do Paraná.

4 - Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro.