quinta-feira, 2 de julho de 2009

Antivirais contra a gripe suína. Como funcionam? Como o vírus adquire resistência? Informação sobre o Tamiflu e o Relenza.

Devido a Dinamarca e o Japão terem confirmados a existência de pacientes, que estavam infectados com vírus resistentes ao Tamiflu (1), e o nosso Ministério da Saúde ter anunciado mudanças em relação a administração do antiviral (2), como colocado no post abaixo, é que vamos fazer uma análise sobre os antivirais existentes e suas diferenças.

Existem dois antivirais recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Tamiflu (oseltamivir) e o Relenza (zanamivir). Entre os dois, o antiviral indicado para o tratamento é o Tamiflu, o Relenza só é recomendado pela OMS caso o vírus seja resistente ao primeiro(3, 4, 5, 6). Ambos os antivirais são inibidores da neuraminidase, uma glicoproteína que se localiza na superfície viral. A neuraminidase tem a função de clivar (destruir) os receptores existentes nas células hospedeiras para que o novo vírus não se ligue novamente as mesmas células que infectou. Portanto, a neuraminidase permite que o vírus se propague no organismo. Os antivirais citados se ligam a neuraminidase e a impedem de exercer sua função, assim, estes medicamentos conseguem conter a evolução da infecção no hospedeiro e como conseqüência, permitem que o paciente se recupere. Outro benefício, é que os antivirais diminuem a transmissão da gripe suína para outras pessoas.

Esta figura mostra como agem os inibidores da neuraminidase. A figura A mostra a propagação viral sem a ação do medicamento. A figura B mostra que a ação do Tamiflu ou do Relenza impede a propagação do vírus (7).

Qual a diferença entre o Tamiflu e o Relenza?

As vantagens do Tamiflu são:

1 - Via de administração oral, em capsulas ou em suspensão. E por isso pode ser administrado em pacientes que estão inconscientes via sonda.
2 - Pode ser administrado em crianças a partir de um ano de idade.
3 - Reações adversas ao medicamento, em geral e quando existem, são brandas.

Desvantagens do Tamiflu:

1 - Vírus se tornam resistentes com maior facilidade. No inverno do hemisfério norte, foi verificado que 96% dos isolados do vírus H1N1 sazonal eram resistentes ao Tamiflu. Não foram observados casos de resistência viral contra o Relenza. Para os outros vírus sazonais (H3N2 e B) não se verificou resistência para nenhum dos inibidores (8)
2 - Preço, a dose do Tamiflu é duas ou três vezes mais caro que a dose do Relenza.
3 - A dose deve ser ajustada para pacientes que possuem problemas renais crônicos.

Vantagens do Relenza:

1 - Não foram descobertos casos de resistência viral ao medicamento.
2 – Preço da dose menor.

Desvantagens do Relenza:

1 - Via de administração, é por aspiração, devido sua forma de apresentação em pó.
2 - Segundo a OMS é necessário treinamento médico para a sua administração.
3 - Não pode ser utilizado em pacientes que possuam asma ou doença obstrutiva pulmonar crônica.
4 - Recomendado para pacientes acima de 5 anos, segundo a OMS.

Como o vírus desenvolve resistência ao medicamento?

A resistência acontece devido a mutações aleatórias, que correm no material genético do vírus da gripe (RNA). Pode ocorrer, como foi no caso da Dinamarca e do Japão, o aparecimento de partículas virais que adquiriram uma mutação que lhes permite ser resistente ao Tamiflu. Quando isso acontece, o medicamento não faz efeito e deve-se utilizar o Relenza. Se o paciente, não apresentar melhora de seu quadro clínico em 24 horas após a administração do Tamiflu, a terapia com o Relenza deve ser aplicada.
Quando uma partícula viral resistente aparece, ela tem mais chances de ser transmitida. Assim, com o passar do tempo, vírus suscetíveis ao Tamiflu tendem a desaparecer, já que são bloqueados, prevalecendo os vírus resistentes. Se não forem tomados cuidados para combater a resistência, o Tamiflu poderá ser completamente inútil para o tratamento da gripe suína. Devido a essa possibilidade, o governo brasileiro suspendeu o a venda do medicamento em farmácias. A medida procura limitar o uso indiscriminado do medicamento.

Fontes em ordem:

www.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u589819.shtml
http://189.28.128.100/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=10355
www.who.int/selection_medicines/committees/expert/17/expert/Oseltamivir_Rev1.pdf
www.who.int/selection_medicines/committees/expert/17/expert/Oseltamivir_Rev2.pdf
www.who.int/selection_medicines/committees/expert/17/expert/Zanamivir_Rev1.pdf
www.who.int/selection_medicines/committees/expert/17/expert/Zanamivir_Rev2.pdf
Figura modificada de “Moscona, A. (2005). Neuraminidase Inhibitors for Influenza. N Engl J Med 353: 1363-1373” link para a publicação científica em inglês.
www.4shared.com/file/115690627/2e9a9195/Inibidores_de_neuraminidase.html
www.who.int/csr/disease/influenza/2008-9nhemisummaryreport/en/

Gripe suína. Mais um caso de resistência ao Tamiflu.

Depois de confirmado pela Dinamarca um caso de resistência ao Tamiflu no último dia 29, foi a vez do Japão relatar mais um casos de resistência ao antiviral. O Tamiflu é o principal antiviral utilizado para combater a gripe suína. Tanto no caso da Dinamarca quanto o do Japão os pacientes se recuperaram com o auxílio de outro antiviral, o Relenza. Segundo as autoridades dos dois países, não existe motivo para preocupação, já que o vírus resistente foi contido. Devido a possibilidade do vírus da gripe suína, criar resistência ao Tamiflu, é que o governo do Brasil recomendou que o tratamento, seja feito somente em pessoas que apresentarem os sintomas da gripe. Anteriormente, todos os indivíduos com suspeitas de infecção pelo H1N1, recebiam o antiviral.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u589819.shtml

http://189.28.128.100/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=10355

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A gripe suína veio pra ficar.

A figura mostra as pandemias que ocorreram desde 1918, em verde está o período que cada subtipo circulou na população humana.

Como ocorreu em todas as outras pandemias, a gripe suína veio pra ficar. Em 1918 surgiu a gripe espanhola, matou 40 milhões de pessoas em dois anos, se tornou mais branda e circulou por 39 anos. Em 1957 a gripe asiática substituiu a gripe espanhola, matou 2 milhões de pessoas, circulou por 11 anos. A gripe de Hong Kong substituiu a gripe asiática, matou um milhão de pessoas e circula na população humana até os dias de hoje. A gripe russa apareceu no ano de 1977, infectou pessoas abaixo dos 25 anos de idade e circula até os dias de hoje. Com base em fatos históricos, podemos deduzir que a gripe suína devera circular na população humana por vários anos ou décadas. A única dúvida é se ela vai substituir algum subtipo circulante na população ou se vai circular em conjunto com os outros subtipos. A meu ver, a gripe suína irá substituir a gripe que se originou em 1977, já que ambas possuem o mesmo subtipo, ambas são A/H1N1.