segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Gripe Suína. Ministério da Saúde coloca em dúvida a eficácia do Tamiflu.

Estudo realizado com três grupos distintos no Rio Grande do Sul mostrou que a eficácia do Tamiflu não é a esperada.
Foram estudados 83 pacientes, divididos em três grupos, o primeiro grupo com 30 pacientes tomou o antiviral no período de 48 horas do início dos sintomas, como recomendado pela bula do medicamento, o segundo grupo com 32 pacientes, recebeu o tratamento após o período recomendado, e o terceiro grupo com 21 pacientes não recebeu o tratamento. Os resultados deste estudo foram alarmantes, 12 pacientes do primeiro grupo morreram em decorrência da gripe suína, ou seja, 40% do total das pessoas deste grupo. No segundo grupo a taxa de letalidade foi de 43,75%, ou seja, 14 pacientes faleceram. No terceiro grupo que não recebeu o tratamento com o Tamiflu, a quantidade de óbitos foi de 6 pacientes ou 28,6% de taxa de mortalidade.
Diante destes resultados a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul e o Ministério da Saúde questionaram a eficácia do Tamiflu.

O secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, Osmar Terra, informou, em entrevista por telefone, ao jornal Estado de São Paulo, que o estudo será ampliado e maiores detalhes do estudo serão divulgados. Entre os detalhes, é importante saber qual era a condição de saúde dos pacientes, a idade ou se estes tinham algum fator de risco.

Segundo o secretário, não foi a falta do medicamento que fez com que as pessoas não recebessem o tratamento ou o recebessem fora do prazo estabelecido. Isso ocorreu, informou o secretário, devido demora destas pessoas em buscar auxílio.

É difícil tirar conclusões baseadas em informações superficiais, mas estes dados mostram que a administração do Tamiflu não fez qualquer efeito nestes pacientes, e a impressão que temos, é que o Tamiflu prejudicou quem recebeu o tratamento, visto que o grupo de pacientes que não tomou a medicação teve porcentual menor de mortos que os outros dois grupos. Levanto aqui três hipóteses para tentar explicar estes resultados, a primeira é que o estado de saúde destes pacientes era demasiado grave para que o medicamento pudesse ser relevante, a segunda é que o medicamento estivesse fora do prazo de validade e por isso não tivesse o efeito esperado, como foi questionado no início da pandemia, e a terceira hipótese é que o vírus circulante no Rio Grande do Sul fosse resistente ao Tamiflu. Quando pacientes nos Estados Unidos, não apresentam melhoras em seu quadro de saúde após a administração do Tamiflu, testes são feitos para determinar se o vírus que os infecta é resistente ao antiviral. Não foi mencionado se testes semelhantes foram feitos nestes pacientes do RS.
A resistência viral ao Tamiflu se deve a uma mutação na neuraminidase, uma proteína da superfície viral e que tem a função de liberar os novos vírus da célula hospedeira e de permitir que estes cheguem ao epitélio respiratório pela emulsificação (deixar mais fluido) o muco existente no trato respiratório. Esta mutação ocorre na posição 275 da neuraminidase, normalmente nesta posição, existe o aminoácido histidina, com a mutação, a posição passa a ser composta pelo aminoácido tirosina. Esta mutação faz com que a estrutura da neuraminidase na região de ligação do Tamiflu se altere e com isso o antiviral não consegue mais se ligar a neuraminidase. Veja abaixo uma representação da neuraminidase ligada ao Tamiflu.



Esquematização da Neuraminidase ligada ao Tamiflu, representado como esferas no centro da molécula. A mutação citada altera a região de ligação do antiviral e faz com que este se torne ineficaz.

Fontes:

1- Jornal O Estado de São Paulo.
2 - Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças.
3 - Roche (Fabricante do Tamiflu).